Operação Pão e Circo: PF e MP acusam prefeitos
de desviar R$ 65 milhões em contratação de shows
O Ministério Público da Paraíba, a Polícia Federal
e a Controladoria Geral da União deflagram, na manhã desta quinta-feira (28), a
operação “Pão e Circo”, para desmantelar um esquema criminoso de contratações
superfaturadas para eventos festivos em pelo menos 40 cidades do Estado. O
esquema envolve prefeitos, primeiras-damas, secretários municipais e
empresários de bandas de forró. Cerca de 300 policiais federais, 30 policiais
militares e 20 auditores da CGU participam da operação, além de 12 promotores de
Justiça.
Segundo o Ministério Público, nos últimos seis
meses, foram desviados mais de R$ 60 milhões. A operação consite no cumprimento
de 93 mandados judiciais, sendo 65 de busca e apreensão, 28 de prisão
temporária, cinco de condução coercitiva, além de ordens de sequestro de bens
movéis e imóveis. Os mandaos foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da
5ª Região, sediado em Recife (PE) e pelo Tribunal de Justiça da Paraíba.
O procurador geral de Justiça da Paraíba, Oswaldo
Trigueiro do Vale Júnior, confirmou a prisão temporária dos prefeitos de
Solânea (localizado no Brejo paraibano, a 130 quilômetros de João Pessoa),
Francisco de Assis de Melo, conhecido por Dr. Chiquinho; de Sapé (cidade do
Brejo, a 63 quilômetros da Capital), João Clemente Neto,conhecido como João da
Utilar; e de Alhandra (no Litoral Sul paraibano, a 44 quilômetros da Capital),
Renato Mendes. Essas três cidades realizaram festejos juninos com bandas de
forró.
No caso de
Sapé, a banda Garota Safada, conhecida em todo o Nordeste, seria uma das
maiores atrações da madrugada do sábado (24.06), dia de São João. Por conta de
contratos em outros municípios do interior paraibano, os artistas só subiram no
palco, armando numa praça pública de Sapé, por volta das 7h30 do dia seguinte.
A banda foi vaiada e os artistas bateram boca com pessoas mais próximas do
palco. Na ocasião, o prefeito prometeu processar a banda por descumprimento do
contrato. A Garota Safada, em período junino, chega a cobrar o cachê de R$ 200
mil por apresentação.
A Polícia
Federal deteve ainda o secretário de comunicação da Prefeitura de Santa Rita,
Jacy Mendonça, e o presidente da comissão de licitação, Robson Torres. Jacy era
apontado como um dos prováveis candidatos à sucessão do prefeito Marcus Odilon.
A cidade fica na região metropolitana da Capital.
Eles foram
presos na ‘Operação Pão e Circo’ em cumprimento de mandados de prisão por
fraudes na contratação de bandas de forró durante os festejos juninos, além de
problemas em licitação para a realização de festas de emancipação política,
inauguração de obras públicas e desvio de recurso federal.
Durante um
ano, as investigações feitas pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime
Organizado (Gaeco) do MPPB constataram a participação direta de prefeitos, seus
familiares e servidores públicos, além de empresas “fantasmas” que foram
constituídas com a finalidade de desviar dinheiro público e fraudar
procedimentos de contratação de serviços para a realização de eventos festivos
(Ano Novo, São João e São Pedro, Carnaval e Carnaval fora de época,
aniversários das cidades, etc).
As fraudes
eram feitas em licitações, dispensas e inexigibilidades de licitação, contratos
com bandas musicais, montagem de palcos, som, iluminação, comercialização de
fogos de artifício, shows pirotécnicos, alugueres de banheiros químicos e
serviços de segurança.
Mais de 40 mil gravações com autorização judicial
foram feitas. As investigações apontaram também o superfaturamento dos objetos
contratados, a inexecução dos serviços contratados e documentos forjados
atestando a falsa exclusividade de artistas e bandas para justificar
irregularmente o procedimento de inexigibilidade de licitação.
Os mandados
de prisão temporária compreendem os prefeitos de Sapé, Solânea e Alhandra; as
primeiras-damas de Alhandra e Solânea, além de secretários municipais de Sapé,
Santa Rita e Solânea; servidores públicos do Instituto de Previdência e
Assistência Social de João Pessoa (Ipam) e da Fundação Cultural de João Pessoa
(Funjope); empresários que atuam no ramo de eventos festivos e outros
servidores públicos. Um dos mandados está sendo cumprido em Alagoas, contra o
empresário Carlos Abílio Ferreira da Silva.
Os mandados
de busca e apreensão estão sendo cumpridos nas sedes das prefeituras de
Alhandra, Boa Ventura, Cabedelo, Capim, Conde, Cuité de Mamanguape,
Itapororoca, Jacaraú, Mamanguape, Mulungu, Sapé, Santa Rita, Solânea e na
Funjope, na Capital, além de sedes de diversas empresas que atuam no ramo de
eventos festivos, localizadas em Alhandra, Bayeux, Conde, João Pessoa, Mari,
Pirpirituba, Rio Tinto e Santa Rita, bem como nas residências dos respectivos
sócios.
Fonte: Correio da Paraíba